Para manter a promessa de um post semanal decidi publicar o texto a seguir. Trata-se de um prefácio escrito por Machado para Trabalhadoes do Mar, obra de Vitor Hugo que ele traduziu em 1866.
"A religião, a sociedade, a natureza: tais são as as três lutas do homem. Estas três lutas são ao mesmo tempo as suas três necessidades: precisa crer, daí o tempo; precisa criar, daí a cidade; precisa viver, daí a charrua e o navio. Mas há três guerras nestas soluções. Sai de todas a misteriosa dificuldade da vida. O homem tem de lutar com o obstáculo sob forma superstição, sob a forma preconceito e sob a forma elemento. Tríplice ananke* pesa sobre nós, o anake dos dogmas, o ananke das leis, o ananke das coisas. Na Notre-Dame de Paris, o autor denunciou o primeiro; nos Miseráveis, o segundo; neste livro indica o terceiro.
A estas três fatalidades que envolvem o homem, junta-se a fatalidade interior, o ananke supremo, o coração do homem.
* Palavra grega que significa necessidade, fatalidade."
Hauteville-House, março de 1866.
Nossas lutas internas e externas, necessidades e os julgamentos racionais e emocionais que impomos a elas são de fato, complexas. Os personagens de Vitor Hugo e de Machado de Assis nos mostraram seus sofrimentos sem nenhuma vergonha. Reside aí a razão de sua perenidade, pois são humanos. Não são anjos e nem demônios, não há lugar nas suas obras para o maniqueísmo. Sofrem, lutam e sentem como nós.
Vale a reflexão, claro a leitura das obras citadas.
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