Crise nas redes ou As duas faces do Facebook II. 05/10/2020

O documentário The Social Dilemma 2020 estreou na NETFLIX fazendo um estrago equiparado a uma catástrofe natural, ou uma bomba no centro movimentado da cidade. Na película, gestores e líderes das principais plataformas da web disparam críticas severas sobre as redes sociais. O mundo da social web estupefato e incrédulo ficou zonzo como um lutador nocauteado na lona. Quanto ao conteúdo, nenhuma novidade para cientistas políticos, pesquisadores e especialistas em comunicação, sociologia e marketing, pois faz tempo que bons estudiosos alertavam e apresentavam análises robustas sobre manipulação e fraude nas redes. Inclusive, a pessoa que escreve essa coluna. Escrevi aqui em agosto sobre a atual crise de imagem do Facebook e cunhei meu prognóstico de que a situação estava muito desfavorável para empresa, ao contrário do escândalo da Cambridge Analytica (CA), pois além de mais grave, agora há uma reincidência. A segunda crise de imagem começou com a pressão de movimentos em diversos países contrários aos perfis que propagam racismo, ódio e fraudes. As marcas anunciantes aderiram ao clamor da opinião pública digital, claro. Ninguém com as faculdades mentais funcionando bem quer associar sua marca às campanhas que trazem danos sociais e econômicos, mas também, os gestores atentos conhecem o perigo de patrocinar um conteúdo que mais cedo ou mais tarde irá comprometer suas reputações. Para jogar álcool na fogueira, a ex-funcionária do Facebook, Sophie Zhang, afirmou que ‘tem sangue nas mãos’. No meio de uma crise de consciência, ela denuncia a responsabilidade da rede em campanhas de manipulação e afirma que tomou decisões ‘que afetaram presidentes’ de países ao redor do mundo. Segundo o Google Trends, após a estreia do documentário, houve um aumento na procura por instruções para cancelar contas nas redes. Ainda segundo a fonte, a procura por ‘desativar o Facebook’ cresceu 250%. Vamos compreender melhor os fatos? Eu sempre discordei de Chris Anderson, quando ele escreveu que ‘o futuro é grátis’, pois a lei de marketing diz o contrário: Não existe petisco grátis. Quem ganha o almoço, paga o jantar. Como diria Barbe-Nicole, a viúva Clicquot, ‘Hoje, bebem; amanhã, pagam!’. Pois bem, no documentário, uma das falas mais chocantes é a seguinte: ‘Se você não paga pelo produto, o produto é você’. O ponto nevrálgico não é ser ‘produto’, pois a maioria das pessoas sabia que seu perfil é usado para anúncios publicitários nas redes. Todo mundo está vendo o link patrocinado, banner no lado direito da tela do e-mail, as publicações das marcas na timeline etc. Eu, por exemplo, não vejo problema algum na programação do algoritmo nas minhas contas e perfis para receber o anúncio do show de Caetano com os filhos, a camisa do Corinthians em homenagem a Senna ou o novo romance de Izabel Allende. Tudo isso aconteceu e eu curti. O cerne do problema é ter seus dados usados para campanhas políticas e saber que pessoas sem discernimento recebem informações falsas, acreditam e compartilham. A questão é que as fraudes e a desinformação trouxeram movimentos antidemocráticos, racistas, combate a vacina e campanhas que atrapalharam o enfrentamento ao Corona Vírus na Pandemia Mundial. O resultado é a expansão da Pandemia, a volta de doenças erradicadas como Sarampo, tensão social e polarização. A conta da brincadeira será paga por todos os empresários e cidadãos, ou seja, quem paga a conta no mercado e na sociedade, fato. Para piorar, imagine você empresário de uma multinacional descobrir que a queda nas vendas e seus prejuízos foram acelerados pelo investimento feito nos anúncios do Google, YouTube e Facebook? A sua empresa estava bancando o doido ‘engraçadinho’ com milhões de seguidores, cujas publicações afirmam que a terra é plana, vacina infiltra demônios, o Corona é uma grande mentira e as máscaras não funcionam. O que você acha que aconteceu? Os anunciantes começaram a retirar seus investimentos, lógico, ululante. Consequentemente, os gestores das principais plataformas começaram a agir e comunicar mudanças para evitar que as marcas das grandes empresas estejam associadas a campanhas fraudulentas. Como diria Vinicius de Moraes, de repente, não mais que de repente, estreia o documentário ‘O Dilema das Redes’. Na película, os cérebros das redes sociais digitais admitem seus erros e alertam para os perigos dos seus negócios. Senhores, não se enganem, o filme é uma das estratégias para gerenciar a crise de imagem e recuperar a credibilidade. Vamos acompanhar as cenas dos próximos capítulos: Será que as redes vão conseguir recuperar o amor dos seus usuários? Será que o público não perdoará as redes sociais ou vai continuar lá fazendo posts contra o uso das redes? Que dilema!

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